Autor: Seth
Editora: Levoir
Tradução: Pedro Cleto
Introdução: Pedro Moura
Data da Edição: 2020
Álbum cartonado: 192 páginas
ISBN: 978-989-862-871-4
Preço: 10,90 €
Dimensões: 156 x 234 mm
Análise
Trata-se de uma obra lançada há já muitos anos, 1996, mas
mais do que o tempo em que foi feita, é a temática que posiciona temporalmente.
Seth conta uma história com elementos autobiográficos onde
não faltam alguns personagens que eram seus amigos. O argumento, embora com um
texto muito bem escrito, torna-se por vezes enfadonho, com pequenos incidentes
que surgem, como se o objetivo fosse aumentar o número de pranchas desenhadas,
pois nada acrescentam em relação à narrativa, que apresentaria as mesmas características
e descreveria a personalidade da personagem principal, mesmo sem esses pequenos
episódios.
A forma como a história é narrada está ligada às técnicas de
narrativa gráfica. Existem sequências de vinhetas sem palavras, onde o objetivo
do autor é explicitar o fluir do tempo, descrever pequenos episódios ou
passagem entre locais. Outras sequências surgem com as personagens em diálogos
apresentados em balões, o que ocorre sempre que a personagem principal interage
com outras. Há outras páginas que surgem com o texto legendado em letras bancas
sobre o fundo negro. Apesar da excelência do texto, que dá prazer ler, sobra a
sensação de que o desenho é apenas um adereço nessas vinhetas. Poderia ser o desenho
que lá está, mas se fosse outro, o resultado seria o mesmo: apenas ilustra o texto:
distrai o olhar. Se o texto surgisse, apenas escrito numa folha, sem o
acompanhamento de qualquer imagem, não deixaria de se entender toda a história.
Não há, nessas vinhetas, um acrescento de informação, nascido da imagem, em
reação às palavras.
O desenho é minimalista, não entrando em muitos pormenores,
seja nas figuras humanas, seja nos cenários, onde o autor utiliza a simplicidade
para mostrar os locais onde ação vai decorrendo, permitindo, apesar dessa
simplicidade, fazer uma perfeita distinção entre os diferentes espaços.
A utilização da cor azul pretende transmitir quase sempre
alguma noção de profundidade, que o traço limpo nem sempre traduz. Por gosto
pessoal preferia que tivesse sido aplicada apenas a cor negra, e há muitos
autores que o fazem de forma excelente, para obter os efeitos que Seth atinge
com a tonalidade azul.
Um dos grandes problemas desta obra reside no tamanho da
letra. Não se percebe o que leva um autor a escolher um tamanho de letra tão
pequeno, que acaba por dificultar a leitura e a concentração do leitor. Se nos
balões, letra negra em fundo branco, a dificuldade de leitura é minimizada, já
o mesmo não se passa nas legendas, onde o ótimo texto escrito a branco sobre
fundo preto, com uma letra tão pequena, torna a leitura muito difícil. Adquiri
o livro na coleção completa, mas se o desfolhasse isoladamente, essa seria uma razão
para nunca efetuar a compra. Não basta escrever uma boa história e desenhá-la
bem. Se depois não se conseguir fazer a leitura da mesma, o trabalho do autor
torna-se inútil.
A explicação que surge nas páginas finais sobre os nomes que
vão surgindo no livro é importante, pois permite ao leitor, menos familiarizado
com a temática, entrar na obra e perceber sobre quem se escreve e o que se
escreve.
Continua a não ser minimamente aceitável que não seja
publicado o título original da obra. Tem acontecido em todos os livros da
coleção e não é admissível. Faz lembrar as revistas portuguesas da década de
sessenta onde as datas de publicação original e as assinaturas dos desenhadores
eram completamente apagadas. É sempre interessante perceber se o tradutor
captou o que o autor queria e a análise da tradução do título é importante.
Publicar a obra sem o título original é como se a publicação não tivesse a
indicação dos autores.
Conclusão
É um livro interessante, com um bom texto e bem desenhado. A
narrativa, do ponto de vista de sequência gráfica, perde qualidade nas vinhetas
onde apenas existem legendas.
O tamanho da letra desaconselha a leitura.
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