terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Análise crítica: A vida é bela, se não desistires

 


Obra: A vida é bela, se não desistires
Autor: Seth
Editora: Levoir
Tradução: Pedro Cleto
Introdução: Pedro Moura
Data da Edição: 2020
Álbum cartonado: 192 páginas
ISBN: 978-989-862-871-4
Preço: 10,90 €
Dimensões: 156 x 234 mm

 

Análise

Trata-se de uma obra lançada há já muitos anos, 1996, mas mais do que o tempo em que foi feita, é a temática que posiciona temporalmente.

Seth conta uma história com elementos autobiográficos onde não faltam alguns personagens que eram seus amigos. O argumento, embora com um texto muito bem escrito, torna-se por vezes enfadonho, com pequenos incidentes que surgem, como se o objetivo fosse aumentar o número de pranchas desenhadas, pois nada acrescentam em relação à narrativa, que apresentaria as mesmas características e descreveria a personalidade da personagem principal, mesmo sem esses pequenos episódios.

A forma como a história é narrada está ligada às técnicas de narrativa gráfica. Existem sequências de vinhetas sem palavras, onde o objetivo do autor é explicitar o fluir do tempo, descrever pequenos episódios ou passagem entre locais. Outras sequências surgem com as personagens em diálogos apresentados em balões, o que ocorre sempre que a personagem principal interage com outras. Há outras páginas que surgem com o texto legendado em letras bancas sobre o fundo negro. Apesar da excelência do texto, que dá prazer ler, sobra a sensação de que o desenho é apenas um adereço nessas vinhetas. Poderia ser o desenho que lá está, mas se fosse outro, o resultado seria o mesmo: apenas ilustra o texto: distrai o olhar. Se o texto surgisse, apenas escrito numa folha, sem o acompanhamento de qualquer imagem, não deixaria de se entender toda a história. Não há, nessas vinhetas, um acrescento de informação, nascido da imagem, em reação às palavras.

O desenho é minimalista, não entrando em muitos pormenores, seja nas figuras humanas, seja nos cenários, onde o autor utiliza a simplicidade para mostrar os locais onde ação vai decorrendo, permitindo, apesar dessa simplicidade, fazer uma perfeita distinção entre os diferentes espaços.

A utilização da cor azul pretende transmitir quase sempre alguma noção de profundidade, que o traço limpo nem sempre traduz. Por gosto pessoal preferia que tivesse sido aplicada apenas a cor negra, e há muitos autores que o fazem de forma excelente, para obter os efeitos que Seth atinge com a tonalidade azul.

Um dos grandes problemas desta obra reside no tamanho da letra. Não se percebe o que leva um autor a escolher um tamanho de letra tão pequeno, que acaba por dificultar a leitura e a concentração do leitor. Se nos balões, letra negra em fundo branco, a dificuldade de leitura é minimizada, já o mesmo não se passa nas legendas, onde o ótimo texto escrito a branco sobre fundo preto, com uma letra tão pequena, torna a leitura muito difícil. Adquiri o livro na coleção completa, mas se o desfolhasse isoladamente, essa seria uma razão para nunca efetuar a compra. Não basta escrever uma boa história e desenhá-la bem. Se depois não se conseguir fazer a leitura da mesma, o trabalho do autor torna-se inútil.

A explicação que surge nas páginas finais sobre os nomes que vão surgindo no livro é importante, pois permite ao leitor, menos familiarizado com a temática, entrar na obra e perceber sobre quem se escreve e o que se escreve.

Continua a não ser minimamente aceitável que não seja publicado o título original da obra. Tem acontecido em todos os livros da coleção e não é admissível. Faz lembrar as revistas portuguesas da década de sessenta onde as datas de publicação original e as assinaturas dos desenhadores eram completamente apagadas. É sempre interessante perceber se o tradutor captou o que o autor queria e a análise da tradução do título é importante. Publicar a obra sem o título original é como se a publicação não tivesse a indicação dos autores.

Conclusão

É um livro interessante, com um bom texto e bem desenhado. A narrativa, do ponto de vista de sequência gráfica, perde qualidade nas vinhetas onde apenas existem legendas.

O tamanho da letra desaconselha a leitura.


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