Título original: Undertaker 2 – La danse des vautours
Argumento: Xavier Dorison
Desenho: Ralph Meyer
Cor: Caroline Delabie e Ralph Meyer
Editora: Ala dos livros
Data da Edição: 2021
Álbum cartonado: 56 páginas
ISBN: 978-989-54726-7-3
Preço: 16,55 €
Dimensões: 235 x 310 mm
Este segundo álbum conduz a uma análise que é comum a muitas
outras situações: a questão dos álbuns em continuação. A continuação só poderá
fazer algum sentido se cada álbum se formar num episódio autoconclusivo, que
depois pode ser inserido num contexto mais amplo. Esta forma, que está a surgir,
de colocar os álbuns com histórias inacabadas que concluirão posteriormente, em
que cada álbum não tem um princípio, um meio e um fim, muitas vezes terminando
só ao fim de várias edições, é uma menorização da banda desenhada face, por
exemplo, à literatura. Não há livros que deixem em suspenso, na última página,
o desenrolar dos acontecimentos. Veja-se por exemplo uma saga como Harry
Potter. Embora a totalidade dos volumes forme um conteúdo coerente que tem um
desenvolvimento no final do conjunto, a verdade é que cada um dos livros basta
por si, não obrigando à leitura dos restantes, para se ler um episodio
completo. Mesmo no cinema, também os ciclos de filmes, são constituídos por
histórias que se entendem isoladamente, e quando tal não sucede, começam alguns
problemas no sucesso dos mesmos; veja-se os dois últimos de Hary Potter, que
acabam por ser alvo de várias críticas devido ao primeiro episódio não contar
uma história completa.
Esta divisão dos álbuns não passa de um truque comercial que
acabará por cansar e diminuir as vendas.
Quando se pretende analisar o argumento deste álbum fica-se
com dificuldades, porque lendo apenas este este episódio pouco se entenderia do
que se estava a passar.
Embora nas primeiras páginas surja uma apresentação de Rose,
que ajuda a perceber a sua personalidade, na verdade é difícil entender o que
faz aquele grupo de pessoas juntas, e o que levou os perseguidores a tomarem
aquela atitude.
Tudo se relaciona com as características de arrogância do
morto, que se serviu do poder e do dinheiro para explorar todos os que
gravitavam em seu redor, ou que ele atraia para a sua influência.
Note-se no entanto essa personalidade do arrogante
capitalista fica em contradição com o episódio contado por Lin, e que está na
origem da sua fidelidade ao defunto.
Tirando este pormenor, todas as personagens são muito
credíveis no ambiente socioeconómico em que habitam.
Jonas Crow já tinha mostrado o que era no primeiro volume e
essas características confirmam-se neste segundo volume: um homem que foge de
algo, que não pretende companhia, com um passado violento, que pretende esquecer,
e um sentido de humor que por vezes roça o tétrico. É possível neste álbum
verificar o exacerbamento dos comportamentos de grupos, que já vinha do álbum
anterior, e que se sobrepõe aos escrúpulos que cada indivíduo poderia possuir e
o impediriam de singularmente cometer crimes. A violência paira ao longo de
quase todas as páginas, embora o humor de Jonas Crow consiga atenuar a dureza
das imagens e dos diálogos.
O final é interessante e deixa alguma curiosidade sob a
forma como os autores irão lidar com a série. Deixa a dúvida se Jonas Crow
poderá manter as mesmas características psicológicas, que o caracterizam, agora
que é acompanhado por uma dupla feminina.
A nível artístico o desenho é de qualidade, com o autor a
dominar os traços fisionómicos, criando um conjunto de rostos bem distintos,
que permite identificar sem qualquer margem de dúvida cada uma das personagens.
Os cenários não são multo trabalhados, mas trata-se de um
opção do desenhador que coloca as personagens, quase sempre em planos muito
fechados, ou então, quando os abre um pouco mais, mostram um ambiente de
aridez, que pretende contribuir para a violência que expressa do argumento. Mas
as imagens também mostram a violência sem preconceitos, e, por vezes, em
pormenor, mas nunca de modo exibicionista. Os atos violentos têm lógica e são
sempre vistos pelo leitor como a única saída possível, que o desenhador não se
coíbe de representar em imagens.
O autor recorre a várias organizações de vinhetas, não
usando com muita frequência as de grande dimensões. Muitas das pranchas têm oito
vinhetas ou mais, o que indicia que a sua área é pequena. Não se pense que o Meyer
apenas faz grandes planos ou planos de pormenor, mas não se intimida perante
essa forma de apresentar a narrativa.
Ralph Meyer usa, raramente, uma vinheta que ocupa a página,
com outras menores inseridas, de modo a mostrar o ambiente geral onde decorre a
ação. Usa também bastantes onomatopeias e alguns símbolos cinéticos, que ajudam
a sublinhar os movimentos.
A cor tem sempre tonalidades muito escuras, que podem ser associadas
ao ambiente árido, parecendo que todas a cenas se passam de noite, o que é
verdade em algumas situações, ou então num entardecer sombrio. Um maior
contraste na cor, tornaria a obra menos sorumbática.
A capa está perfeitamente de acordo com o contudo narrativo e cromático.
Conclusão
A série é interessante, mas não se aconselha a fazer a
leitura deste álbum sem primeiro fazer a do primeiro. Vale pelo conjunto dos
dois, não se podendo ler cada um deles de modo individualizado.
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