Autor: José Ruy
Editora: Âncora
Data da Edição: 2020
Álbum brochado: 32 páginas
ISBN: 978-989-862-870-7
Preço: 10,90 €
Dimensões: 175 x 246 mm
Análise
José Ruy já utilizara este modelo de narrativa com bastante
eficácia em Operação Òscar e em Mataram o rei! Viva a Republica. Recorrer a
personagens fictícias, colocando-os a contracenar com personagens reais em factos
verídicos.
Portanto, do ponto de vista narrativo, há que enquadrar o
modelo escolhido por José Ruy, e, dentro do estilo adotado, conseguiu os seus
objetivos. Narrar os eventos históricos de modo eficaz, claro, deixando
perceber bem o que é real e o que é ficção.
José Ruy recorre bastante ao texto legendado, sendo aí que
se encontra em maior abundância o relato histórico-verídico, servindo os diálogos,
em que usa balões, para acrescentar os factos ficcionados.
As vinhetas encontram-se bem definidas, separadas por
espaços em branco. Há, em situações muito reduzidas, vinhetas sobrepostas, em
que se tenta mostrar simultaneidade ou sobreposição de observações. A sequência
pela qual é feita a leitura não é optativa. Torna-se claro em cada vinheta qual
é a anterior ou a posterior, e, se em alguns casos houvesse dúvida, o próprio
autor coloca setas que indicam a sequência que ele pretende que o leitor siga.
José Ruy tem um desenho bastante plástico, onde os corpos
denunciam de modo claro o seu movimento, mas mesmo assim, não se inibe de
recorrer a símbolos cinéticos que acrescentam fluidez ao imaginado movimento
dos corpos. Os desenhos de José Ruy não são estátuas. São corpos que se movem
de forma bem explícita.
O autor não pode ser acusado de desenhar figuras sobre fundos
coloridos. Continuando um estilo que já vem detrás, José Ruy explicita bem os
cenários onde a ação decorre, não exagerando, deixando o leitor a admirar o
fundo da vinheta, esquecendo a história, mas colocando os elementos essenciais
que tornam a observação da vinheta agradável.
Na página 2 do álbum surge a indicação das obras consultadas
por José Ruy, e se algumas se dirigem aos eventos históricos, outras são de
pesquisa icónica, de modo a poder fazer bom uso da sua arte de desenhar na
representação de uniformes, vestuários de época, monumentos e orografia locais.
Em todo o desenho há um pormenor, também comum a outros
trabalhos de José Ruy, que parece ser o seu ponto fraco. Quando faz a abordagem
de alguns planos gerais, fica-se com a ideia que as proporções do terreno e dos
corpos representados nem sempre são bem reproduzidos. Como exemplo disso fica a
vinheta reproduzida na contracapa, onde parece haver uma desproporção entre as
dimensões da baía, dos barcos e o seu posicionamento em relação à profundidade
das águas.
A capa é excelente, mostrando toda a mestria de José no
desenho de corpos e objetos e do mar. José Ruy sempre desenhou muito o mar:
Lusíadas, Capitão Bomvento, Fernão Mendes Pinto, etc, e esta capa revela todo o
conhecimento e experiência que ele adquiriu.
Lamenta-se este livro não ser publicado em capa dura, o que
mais tarde ou mais cedo o condenará a ter a capa separada das folhas. O
objetivo deve ter sido produzir uma edição mais barata.
Conclusão
Obra de um grande mestre da banda desenhada portuguesa, que continua a desenhar e a narrar com elevada qualidade. Pertence a um género de que nem todos gostam, narrando eventos históricos, que José Ruy, consegue aligeirar sem adulterar os factos. Mais um livro a juntar a muitos outros de José Ruy, que constituem uma versão alternativa de conhecer a história portuguesa desde a fundação de Portugal até aos tempos contemporâneos.
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