Autor: Nicolas Barral
Cor: Marie Barral
Editora: Levoir
Tradução: João Miguel Lameiras
Data da Edição: 2020
Álbum cartonado: 88páginas
ISBN: 978-989-862-874-5
Preço: 10,90 €
Dimensões: 203 x 287 mm
Análise
A história pode dividir-se num prólogo de duas pranchas e
oito capítulos, todos com um título e com número distinto de páginas.
O prólogo não tem nada de relevante. Relata o acidente que
conduziria à morte de Oliveira Salazar, ajudando a localizar a história temporalmente,
mas sem mais nenhuma relação com a restante narrativa. Não se fala da situação
absurda que o país viveu, em que Salazar ainda pensava que governava. A própria
questão da sucessão política não é abordada na história.
Tudo se passa em torno de um médico, que fez a guerra na
Guiné, de onde não parece ter saído com qualquer trauma. Mostra a forma leve
como encara a vida, sem se importar com as consequências que os seus atos podem
ter. Consequências mais do que previsíveis dadas as suas relações com o irmão.
É essa sua conivência com a ditadura, que aparentemente ele
não demonstra, mas de que deveria ter consciência, que leva a que o seu último
ato não seja coerente com a personalidade que sempre adorou a proteção que
sentiu e tudo fez para a manter.
Argumento bem
estruturado, na perspetiva de sequência narrativa, mas com um comportamento da
personagem principal pouco verosímil no final, considerando todo o
comportamento do médico, que é dissecado na obra, pois toda ela gira em torno
de si.
As pranchas encontram-se divididas em vinhetas perfeitamente
definidas por moldura intercalada com espaço em branco. O número de vinhetas é
variável, mas a maior parte das pranchas têm entre seis e oito. Existem algumas
vinhetas maiores, que fazem diminuir o seu número por página, havendo uma prancha
ocupada por uma única vinheta.
Sobre a qualidade do desenho apenas se podem fazer referências
positivas. O autor usa muito bem os rostos para expressar as emoções das
personagens e mesmo os seus pensamentos não expressos, conseguindo em
simultâneo uma plasticidade nos corpos que mostra a vitalidade dos mesmos.
Vê-se que são corpos vivos e não estátuas. O desenho também acrescenta
elementos aos diálogos, complementando a história.
Os cenários são detalhados, sejam os exteriores ou os interiores,
mostrando, no caso dos exteriores, a Lisboa do final da década de sessenta. Os
pormenores paisagísticos que identificam a cidade são muito fortes e
característicos da capital portuguesa.
A narrativa passa-se em diferentes épocas e a cor é usada
para diferenciar as vinhetas que decorrem nesses dois diferentes tempos. Uma
terceira tonalidade é usada para descrever uma situação onírica descrita no
livro.
O tipo de letra e o tamanho estão adequados a uma leitura
fácil, usando o autor, em algumas situações, o tamanho da letra para identificar
distintas intensidades do som.
As legendas praticamente não existem. Apenas em duas vezes
se identificam claramente, para fazer a localização espacial dos eventos
narrados. Algum texto que surge em caixas, parecendo uma legenda, está no
entanto a ser atribuído a uma das personagens sem que esta surja na imagem.
A capa é muito boa. Traduz perfeitamente a personalidade da
personagem, mostrando ainda de modo mais evidente a estranheza que sente com a
opção do argumentista no final.
Um outro elemento contribuinte da qualidade da obra reside
no facto de ser uma publicação original, publicada ainda antes da que ocorreu
em língua francesa, o idioma em que foi escrito.
Mais uma vez opta-se por não se indicar,
incompreensivelmente, o título original deste livro.
Conclusão
Uma obra que se lê agradavelmente, bem desenhado, bem
colorido, bem estruturado, mas com um fim inverosímil que agradará a todos os
que gostam de finais felizes e românticos.
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