Título original: Lucky Luke (nouvelles aventures) ) – Un Cow-boy dans le cotton
Editora: Asa
Data de Edição: outubro de 2020
ISBN: 978-989-23-4948-0
Desenho: Achdé
Argumento: Jul
Cor: Mel Acryl’Ink
Álbum cartonado: 48 páginas – 44 de banda desenhada
Dimensões: 293 mm x 225 mm
Preço: 10,90 €
Análise:
O argumento recorre à interação
de Lucky Luke com personagens da história dos Estados Unidos, uma situação
recorrente da série, que já surgiu em
muitos episódios anteriores. A novidade surge no facto de essa personagem se
tratar de um negro que ocupou o cargo de Marshall Adjunto. Esta situação que
pode ser associada aos múltiplos problemas raciais que atualmente se vivem nos
Estados Unidos, com a o relevo que têm estado a ganhar os movimentos de
supremacia branca, representados neste álbum pela Ku-Klux Klan.
Situada numa época em que a
escravatura tinha sido abolida, são no entanto evidentes ainda as marcas que o
sistema deixou na sociedade daquele país, neste caso representado pelo estado
da Luisiana. Neste âmbito salienta-se negativamente a tentativa de apresentar o
oeste do país como sendo uma zona livre de atitudes racistas, o que estava
longe de ser verdade.
A melhor época da série foi
aquela em que Goscinny escreveu os argumentos, em que a fluidez narrativa e o
humor marcaram os diferentes episódios. Com a
assunção, por Morris, da escrita dos episódios, notou-se o quebrar dessa
espontaneidade e incapacidade de produzir humor naturalmente no fluir
narrativo.
Este episódio, no que se refere
ao humor, faz lembrar alguns dos momentos que Goscinny trouxe às páginas da
série. A vontade de rir, ou apenas sorrir, surgem de modo natural na leitura,
com o aproveitamento das diferentes personagens, das suas características e dos
elementos cenográficos apresentados no contexto da história. Não surge, na
maior parte das situações, o humor forçado.
Como em episódios anteriores
surge um piscar de olho à atualidade fazendo aparecer duas crianças que podem
ser associadas a duas personagens conhecidas dos tempos atuais: a pequena Oprah
e o jovem Barack.
De forma natural surgem também no
episódio, as personagens ficcionais Tom Sawyer e Hucklberry Finn criadas pelo
escritor Mark Twain.
Os Dalton também marcam presença
neste álbum, numa participação pouco intensa, mas suficiente para alguns bons
momentos de humor.
O argumento flui de modo natural
quase até ao final. No completar da narrativa é verificável a dificuldade do
argumentista em resolver a ação. Surge quando Lucky Luke fica incapaz de solucionar,
por si, ou com a ajuda do seu cavalo, o problema em que se encontra, sendo
salvo por outra das personagens, que surge naquele momento, vinda do nada,
embora apresente uma justificação, forçada, para a sua presença. Normalmente
Lucky Luke resolveria com Jolly Jumper os problemas em que se encontrava. Neste
caso sucedeu de outra forma. Também do
nada, surge um furacão, que é um fenómeno, que ao contrário dos tornados, não
surge de modo brusco, havendo sempre alterações meteorológicas anteriores que o
prenunciam. Neste caso surgiu sem aviso. Tivesse o argumentista conseguido
resolver estas duas situações de modo mais eficaz e estaríamos perante um dos
melhores argumentos da série.
As relações sociais surgem de
modo muito caricatural no episódio, o que já não é uma novidade nesta série,
com os negros a serem todos bons, os brancos americanos a serem todos maus e os
descendentes dos franceses a viverem completamente arredados da sociedade dos
americanos. A introdução de algum elemento dissonante dentro dos grupos étnicos
poderia contribuir para criar algumas situações humorísticas.
Achdé é um desenhador que conseguiu apanhar o traço
de Morris. O traço é leve, adequado a uma história em que o movimento é um
elemento importante da leitura e da sequência narrativa. O desenhador consegue
desenhar os corpos nas diferentes posições que lhes transmitem uma plasticidade
que os transforma, apesar do traço caricatural, em personagens animadas.
Os elementos cenográficos são
bastantes diversificados e por vezes minuciosos. O autor desenha vinhetas
pequenas, que normalmente lhe permitem colocar de oito a onze vinhetas em cada
prancha, mas arrisca por vezes algumas vinhetas maiores, não poupando nos
pormenores cenográficos. Das vinhetas gigantes, uma análise mais negativa, vai
para a da prancha trinta e nove, que parece ser a menos conseguida. De
salientar, na prancha seguinte, as três vinhetas que ocupam todo o comprimento
da prancha e que conseguem transmitir na perfeição a narrativa que lhe está
associada. Trata-se de uma exemplo em que a história tem que ser
obrigatoriamente lida com a opção gráfica tomada pelo desenhador.
A paleta de cores é variada e
adequada a cada contexto narrativo, como por exemplo o verde, quando em fundo
se encontram os pântanos ou ambientes ajardinados, ou tons escuros para cenas
noturnas.
Quase toda a narrativa decorre
com os diálogos dos balões. O texto em legendas é muito raro, com exceção da
prancha seis, onde não há um evoluir narrativo, mas uma explicação histórica
sobre o enquadramento social nas plantações da Luisiana. Quase toda a história
poderia decorrer sem a presença das legendas, percebendo-se o enredo apenas
pela leitura de desenho e texto.
A letra é bem legível, surgindo
em tamanho adequado a permitir a leitura fácil.
Ao longo da narrativa surgem
algumas onomatopeias, assim como balões com simbologia, ou formatos de letra
que exprimem emoções.
Para expressar movimento existem
alguns símbolos cinéticos, embora a plasticidade do traço já o evidencie, e
mais alguma simbologia, em torno dos rostos, de modo a amplificar as emoções
que os semblantes expressam.
Conclusão:
Um livro que vale a pena ler. As
suas poucas insuficiências a nível do argumento ou do desenho, são superadas
pelos aspetos positivos.
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