segunda-feira, 19 de julho de 2021

Análise crítica: Lena

 


            
            Obra: Lena
Título original: Léna- Intégrale
Argumento: Pierre Christin
Desenho: André Juillard
Editora: Arte de Autor
Tradução: Jorge Colaço
Data da Edição: 2021
Álbum cartonado: 172 páginas
ISBN: 978-989-53114-0-8
Preço: 29,25 €
Dimensões: 316 mm x 239 mm
 

Análise

Este álbum contém os três episódios da série publicados até ao momento e que poderão ser os únicos. Os dois primeiros em 2006 e 2009 e o último, mais recente, em 2020. Cada um tem 54 páginas. Os episódios intitulam-se, por ordem cronológica: A longa viagem de Lena, Lena e as três mulheres e Lena em pleno braseiro.

Os títulos não são a escolha mais feliz dos autores para identificar os episódio. Os dois primeiros desviam um pouco da temática do episódio e no último é demasiado banal, embora braseiro tenha um significado que é entendível na leitura.

Os argumentos poderiam ter algum interesse, mas caem numa rotina de tudo acontecer como está previsto, sem falhas, quase sem emoção. Apenas no terceiro episódio o imprevisto parece acontecer, mas mesmo assim, sem grande surpresa para o leitor.

A narrativa feita essencialmente na primeira pessoa, até pode ser legível num modelo de texto escrito em conto ou novela, mas na banda desenhada apresenta monotonia, com o texto sistematicamente numa legenda que é uma descrição feita por Lena. Também existem balões, mas o essencial encontra-se na narrativa em legenda. Tudo gira em torno da personagem principal: o que ela vê, o que ela descreve e o que ela planeou, pelo que a sua imagem surge em quase todas as vinhetas. O argumento não é muito feliz nesta banda desenhada: a temática, o cenário e as personagens permitiam fazer bastante melhor.

O desenho é satisfatório, embora os rostos pudessem, por vezes, exprimir melhor as emoções. Juillard não arrisca muito e tudo se parece como uma sucessão de fotografias, todas muito certinhas, com as poses corretas e nos ângulos corretos. As poucas vezes em que arrisca um pouco mais no desenho, Juillard, sai-se bem. Possivelmente o texto também não facilita um maior desenvolvimento da parte gráfica, que acaba por ser pouco variada, embora, por vezes no primeiro episódio, ainda arrisque uma sequência mais longa sem qualquer palavra. Nos dois últimos a ausência de palavras é muito mais restrita.

Não são visíveis símbolos cinéticos. Embora no aspeto fotográfico dos episódios seja evidente a sequência de movimentos, com a proximidade de posições nas vinhetas sucessivas. O conceito de movimento acaba por surgir na leitura.

Em especial no primeiro episódio, e um pouco menos no segundo, Juillard usa muito as referências geográficas, representadas por ícones paisagísticos ou monumentais que ajudam a georreferenciar o episódio.

Um dos aspetos mais estranhos do desenho apresenta-se no uso que o autor faz do corpo da personagem Lena. Num erotismo soft apresenta Lena em poses que nada acrescentam à história mas que têm como objetivo prender o leitor na visualização daquele corpo, embora quase sempre muito pudicamente. O uso do corpo é descontextualizado e apresentando uma autocensura que não quer chocar demasiado os leitores mais sensíveis à amostragem do corpo feminino.

Há diferença entre as tonalidades escolhidas nos dois primeiros álbuns e o terceiro, com este último a ter cores mais escuras. Não é uma boa escolha para o último episódio. Nos dois primeiros a visualização cromática é mais agradável, mas não se trata de um elemento decisivo na análise desta obra.

A capa está de acordo com o que se pretende com o conteúdo. Lena, como centro dos episódios.

Conclusão

Não é uma série interessante e pode ser que termine com este terceiro episódio. O estilo narrativo, e a inexistência de imprevistos, não ajudam a que o leitor siga com interesse, seja dentro de cada episódios, seja na procura do seguinte.

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