Título original: Léna- Intégrale
Argumento: Pierre Christin
Desenho: André Juillard
Editora: Arte de Autor
Tradução: Jorge Colaço
Data da Edição: 2021
Álbum cartonado: 172 páginas
ISBN: 978-989-53114-0-8
Preço: 29,25 €
Dimensões: 316 mm x 239 mm
Análise
Este álbum contém os três
episódios da série publicados até ao momento e que poderão ser os únicos. Os
dois primeiros em 2006 e 2009 e o último, mais recente, em 2020. Cada um tem 54
páginas. Os episódios intitulam-se, por ordem cronológica: A longa viagem de
Lena, Lena e as três mulheres e Lena em pleno braseiro.
Os títulos não são a escolha mais
feliz dos autores para identificar os episódio. Os dois primeiros desviam um
pouco da temática do episódio e no último é demasiado banal, embora braseiro
tenha um significado que é entendível na leitura.
Os argumentos poderiam ter algum
interesse, mas caem numa rotina de tudo acontecer como está previsto, sem
falhas, quase sem emoção. Apenas no terceiro episódio o imprevisto parece
acontecer, mas mesmo assim, sem grande surpresa para o leitor.
A narrativa feita essencialmente
na primeira pessoa, até pode ser legível num modelo de texto escrito em conto ou
novela, mas na banda desenhada apresenta monotonia, com o texto
sistematicamente numa legenda que é uma descrição feita por Lena. Também
existem balões, mas o essencial encontra-se na narrativa em legenda. Tudo gira
em torno da personagem principal: o que ela vê, o que ela descreve e o que ela
planeou, pelo que a sua imagem surge em quase todas as vinhetas. O argumento
não é muito feliz nesta banda desenhada: a temática, o cenário e as personagens
permitiam fazer bastante melhor.
O desenho é satisfatório, embora
os rostos pudessem, por vezes, exprimir melhor as emoções. Juillard não arrisca
muito e tudo se parece como uma sucessão de fotografias, todas muito certinhas,
com as poses corretas e nos ângulos corretos. As poucas vezes em que arrisca um
pouco mais no desenho, Juillard, sai-se bem. Possivelmente o texto também não
facilita um maior desenvolvimento da parte gráfica, que acaba por ser pouco
variada, embora, por vezes no primeiro episódio, ainda arrisque uma sequência
mais longa sem qualquer palavra. Nos dois últimos a ausência de palavras é
muito mais restrita.
Não são visíveis símbolos
cinéticos. Embora no aspeto fotográfico dos episódios seja evidente a sequência
de movimentos, com a proximidade de posições nas vinhetas sucessivas. O
conceito de movimento acaba por surgir na leitura.
Em especial no primeiro episódio,
e um pouco menos no segundo, Juillard usa muito as referências geográficas,
representadas por ícones paisagísticos ou monumentais que ajudam a
georreferenciar o episódio.
Um dos aspetos mais estranhos do
desenho apresenta-se no uso que o autor faz do corpo da personagem Lena. Num
erotismo soft apresenta Lena em poses que nada acrescentam à história mas que
têm como objetivo prender o leitor na visualização daquele corpo, embora quase
sempre muito pudicamente. O uso do corpo é descontextualizado e apresentando
uma autocensura que não quer chocar demasiado os leitores mais sensíveis à
amostragem do corpo feminino.
Há diferença entre as tonalidades
escolhidas nos dois primeiros álbuns e o terceiro, com este último a ter cores
mais escuras. Não é uma boa escolha para o último episódio. Nos dois primeiros
a visualização cromática é mais agradável, mas não se trata de um elemento
decisivo na análise desta obra.
A capa está de acordo com o que se pretende com o conteúdo.
Lena, como centro dos episódios.
Conclusão
Não é uma série interessante e pode ser que termine com este
terceiro episódio. O estilo narrativo, e a inexistência de imprevistos, não
ajudam a que o leitor siga com interesse, seja dentro de cada episódios, seja
na procura do seguinte.
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