Título original: Gus 1 - Nathalie
Argumento: Christophe Blain
Desenho: Christophe Blain
Cor: Walter
Editora: Gradiva
Tradução: Jorge Lima
Data da Edição: 2021
Álbum cartonado: 80 páginas
ISBN: 978-989-785- 005-9
Preço: 16,50 €
Dimensões: 296 x 244 mm
Análise
Cheguei a este livro através de
um programa de televisão de cariz político. Fazendo zapping passei por um canal
onde alguns intervenientes comentavam factos políticos recentes. Não sei qual
era o tema que me levou a ficar a assistir, e, no final, um dos participantes
aconselhou livros. O participante era Sérgio Sousa Pinto e fez uma descrição do
livro, que iria ser editado, que me despertou o meu interesse. Verifique depois
que Sérgio Sousa Pinto faz mesmo um pequeno prefácio da edição portuguesa.
Não foi uma expectativa
frustrada. Valeu a pena esperar que fosse possível adquirir a edição.
Trata-se de uma abordagem
diferente do western. Uma abordagem adulta, seja no que se refere à temática,
quer à linguagem. São narradas as aventuras de três amigos, Gus, Clem e Gratt: três
assaltantes de bancos e comboios, violentos nas ações de roubo que praticam.
Mas não essa violência que surge com tema da obra. A atividade dos tês amigos
apenas serve como contexto espacial e temporal da ação. O tema são as aventuras
amorosas dos três, onde o seu comportamento belicoso se modifica imediatamente.
O modo como interagem com as mulheres é distinto daquele que usam nos assaltos:
são meigos, sedutores e até mesmo tímidos e submissos.
Não conheço qualquer abordagem
western deste tipo, onde o humor, porque se trata de uma série de humor, surge
de uma forma inteligente e elegante, nunca pisando o risco de uma linguagem
brejeira ou uma imagem excessivamente explicita sexualmente, que a temática
abordada facilitaria.
O livro contem cinco episódios,
todos com número de páginas diferentes: Nathalie, com 8 páginas; Gus, Clem,
Grant, com 11 páginas; El Dorado, com 34 páginas, Linda Mc Cormick, com 13
páginas; e Isabella, com 12 páginas.
Cada um dos episódios funciona de
modo independente, mas o livro termina com uma ligação à primeira das
histórias, estabelecendo desse modo uma ligeira linha de continuidade
narrativa.
O desenho é muito simples. Usa um
estilo caricatural exagerado, de modo a evidenciar algumas das características
físicas das personagens, facilitando a sua identificação. Os cenários também
surgem de forma caricatural, por vezes minimalista, ajudando a interpretar a
ação e os comportamentos dos intervenientes. As legendas surgem de modo raro
nas vinhetas, o que mostra a capacidade do autor para usar a imagem e a cor de
modo a situar-nos espacialmente, a indicar diferentes tempos ou a explicitar os
sentimentos dos intervenientes. Algum texto que surge sem ser em balão é uma
narração que está a ser feita por Gus. Também as legendas seriam
desnecessárias, pois a ajuda da cor identifica os diferentes espaços. Claro que
se pensarmos numa edição a preto e branco torna-se necessária a legenda. Não há
informação sobre se teria sido este o motivo que levou Christophe Blain a
introduzir algum texto neste formato.
Blain não utiliza um esquema
rígido na elaboração das pranchas. O tamanho das vinhetas é variável, assim
como a existência de separação feita por linha entre as mesmas. Os balões são
diversificados, podem do até surgir com desenho em vez de texto. O recurso às
onomatopeias e a símbolos cinéticos, que intensificam a ilusão de movimento que
o desenhador já consegue mostrar com os seus corpos deformados pelo desenho
caricatural, abundam por toda a obra.
A capa não transmite informação
sobre o conteúdo, mostra apenas uma caricatura de Gus, mas numa pose que não é
aquela que é predominante na temática que surge no interior do livro. Quase
aponta para um western clássico, que não é o caso, embora dentro do género
caricatural/humorístico. Esta é mesmo uma série diferente.
Conclusão
Um livro a não perder. Argumento inteligente e
diferente do habitual, desenho de excelente qualidade e cor bem aplicada.
Tenho curiosidade de ver se o
autor consegue manter a qualidade da série nos álbuns seguintes, sem cair na
abordagem fácil a que os temas western e sexo convidam.
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