sexta-feira, 9 de julho de 2021

Análise Crítica: Gus- Nathalie

 

            

            Obra: 1. Nathalie
Título original: Gus 1 - Nathalie
Argumento: Christophe Blain
Desenho: Christophe Blain
Cor: Walter
Editora: Gradiva
Tradução: Jorge Lima
Data da Edição: 2021
Álbum cartonado: 80 páginas
ISBN: 978-989-785- 005-9
Preço: 16,50 €
Dimensões: 296 x 244 mm

 

Análise

Cheguei a este livro através de um programa de televisão de cariz político. Fazendo zapping passei por um canal onde alguns intervenientes comentavam factos políticos recentes. Não sei qual era o tema que me levou a ficar a assistir, e, no final, um dos participantes aconselhou livros. O participante era Sérgio Sousa Pinto e fez uma descrição do livro, que iria ser editado, que me despertou o meu interesse. Verifique depois que Sérgio Sousa Pinto faz mesmo um pequeno prefácio da edição portuguesa.

Não foi uma expectativa frustrada. Valeu a pena esperar que fosse possível adquirir a edição.

Trata-se de uma abordagem diferente do western. Uma abordagem adulta, seja no que se refere à temática, quer à linguagem. São narradas as aventuras de três amigos, Gus, Clem e Gratt: três assaltantes de bancos e comboios, violentos nas ações de roubo que praticam. Mas não essa violência que surge com tema da obra. A atividade dos tês amigos apenas serve como contexto espacial e temporal da ação. O tema são as aventuras amorosas dos três, onde o seu comportamento belicoso se modifica imediatamente. O modo como interagem com as mulheres é distinto daquele que usam nos assaltos: são meigos, sedutores e até mesmo tímidos e submissos.

Não conheço qualquer abordagem western deste tipo, onde o humor, porque se trata de uma série de humor, surge de uma forma inteligente e elegante, nunca pisando o risco de uma linguagem brejeira ou uma imagem excessivamente explicita sexualmente, que a temática abordada facilitaria.

O livro contem cinco episódios, todos com número de páginas diferentes: Nathalie, com 8 páginas; Gus, Clem, Grant, com 11 páginas; El Dorado, com 34 páginas, Linda Mc Cormick, com 13 páginas; e Isabella, com 12 páginas.

Cada um dos episódios funciona de modo independente, mas o livro termina com uma ligação à primeira das histórias, estabelecendo desse modo uma ligeira linha de continuidade narrativa.

O desenho é muito simples. Usa um estilo caricatural exagerado, de modo a evidenciar algumas das características físicas das personagens, facilitando a sua identificação. Os cenários também surgem de forma caricatural, por vezes minimalista, ajudando a interpretar a ação e os comportamentos dos intervenientes. As legendas surgem de modo raro nas vinhetas, o que mostra a capacidade do autor para usar a imagem e a cor de modo a situar-nos espacialmente, a indicar diferentes tempos ou a explicitar os sentimentos dos intervenientes. Algum texto que surge sem ser em balão é uma narração que está a ser feita por Gus. Também as legendas seriam desnecessárias, pois a ajuda da cor identifica os diferentes espaços. Claro que se pensarmos numa edição a preto e branco torna-se necessária a legenda. Não há informação sobre se teria sido este o motivo que levou Christophe Blain a introduzir algum texto neste formato.

Blain não utiliza um esquema rígido na elaboração das pranchas. O tamanho das vinhetas é variável, assim como a existência de separação feita por linha entre as mesmas. Os balões são diversificados, podem do até surgir com desenho em vez de texto. O recurso às onomatopeias e a símbolos cinéticos, que intensificam a ilusão de movimento que o desenhador já consegue mostrar com os seus corpos deformados pelo desenho caricatural, abundam por toda a obra.

A capa não transmite informação sobre o conteúdo, mostra apenas uma caricatura de Gus, mas numa pose que não é aquela que é predominante na temática que surge no interior do livro. Quase aponta para um western clássico, que não é o caso, embora dentro do género caricatural/humorístico. Esta é mesmo uma série diferente.

Conclusão

 Um livro a não perder. Argumento inteligente e diferente do habitual, desenho de excelente qualidade e cor bem aplicada.

Tenho curiosidade de ver se o autor consegue manter a qualidade da série nos álbuns seguintes, sem cair na abordagem fácil  a que os temas  western e sexo convidam.

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