Título original: Wanted
Argumento: Mattieu Bonhomme
Desenho: Mattieu Bonhomme
Cor: Mattieu Bonhomme
Editora: A seita
Tradução: Sandra Alvarez
Data da Edição: 2021
Álbum cartonado: 82 páginas
ISBN: 978-989-54880-6-3
Preço: 16,95 €
Dimensões: 319 x 237 mm
Análise
Mais um livro de Lucky Luke que sai da série “normal” e o
segundo da autoria de Mathieu Bonhomme.
O argumento é bem trabalhado, fazendo relembrar alguns dos
bons momentos que Goscinny trouxe à série, com um humor que transborda ao longo
da obra, mesmo nos momentos mais tensos. Este é um Lucky Luke diferente do que
foi desenhado tantos anos por Morris. Os principais elementos da série estão
lá, mas alguns são atenuados, como seja a rapidez e a quase invencibilidade da
personagem em todas as situações, e foi acrescentado outro: o assédio sexual
feminino, que sai de uma perspetiva caricatural que já foi vista em alguns dos
episódios mais antigos da série, para se tornar mais realista, e até mais
ousado, apesar do desenho se continuar a manter caricatural.
Neste álbum Bonhomme recorre a várias personagens do
universo da série, algumas das quais surgiram logo no seu inicio, há cerca de
70 anos. Não é algo que diminua a qualidade do argumento, pois se recordarmos a
série ”normal” os Dalton vão pontuando
regularmente os episódios.
Se já no seu primeiro álbum da reinvenção de Lucky Luke,
Bonhomme recorrera a uma personagem conhecida, agora recorre a várias, não o
fazendo apenas para apelar ao saudosismo, mas porque, na verdade, elas se
enquadram perfeitamente no argumento, e este torna-se mais coerente com a sua
presença. Não que elas fossem absolutamente necessárias, pois a temática
poderia ter sido desenvolvida recorrendo a outros fora da lei, mas o recurso de
que Bonhomme faz é lógico. Aguardo um próximo volume, para ver se o autor
consegue fugir desse círculo, o que demonstraria a sua capacidade criativa.
Estre argumento caracteriza-se por, apesar de se fazer uma corrida
à captura de Lucky Luke por vários fora da lei, o autor está a referir-se,
usando uma linguagem metafórica, à corrida dos autores de banda desenhada às
séries que vendem. Esta ideia só é possível ser descoberta quando se lê a
entrevista ao autor, que surge nas páginas finais, acompanhando alguns esboços
realizados para construir o episódio. Estes extras são um enriquecimento do
livro, uma vez que a banda desenhada apenas ocupa 66 páginas. Estas páginas
finais ajudam a conhecer a obra que se acabou de ler e a sua construção. Um
interessante texto de João Miguel Lameiras complementa estas páginas que foram
adicionadas às de banda desenhada.
Mathieu Bonhomme é um excelente desenhador e demonstra-o
neste livro. Usa todos os recursos da banda desenhada: onomatopeias, símbolos
cinéticos, planos gerais, planos de pormenor, designadamente quando quer
apresentar as emoções, dimensão das vinhetas, vinhetas sem palavras, a cor e
muitos outros. Nesta obra encontra-se um manancial a ser usado por quem quiser
apresentar a forma como se utiliza a linguagem da banda desenhada.
Os planos de pormenor dos rostos são excelentes, ajudando a
percecionar emoções das personagens, designadamente ao mostrar os olhos.
Com as tonalidades usadas, Bonhomme consegue sublinhar o que
é importante na vinheta, o que se destaca, tornando-se o essencial da
narrativa, num fundo de figurantes ou de cenário estático.
Os cenários são um dos aspetos menos pormenorizados deste álbum,
mas não diferindo muito, do que se passa na série principal. Bonhomme faz
lembrar os ambientes onde se desenrolam alguns filmes de “western spaghetti”, na
aridez do espaço e na ausência de vida, para além da humana. Não é só nesse
aspeto que a leitura nos transporta para o cinema. Algumas das sequências das
vinhetas também o fazem, como na prancha 53, em que Lucky Luke se encaminha
para o bandido que mantêm as três irmãs reféns.
A narrativa não é feita de modo apressado. Bonhomme desenha
as vinhetas sequenciando todos os pormenores. A sublinha esse facto está o
elevado número de vinhetas por prancha, que até parecem menos, devido ao traço
“limpo” do autor. Por exemplo das pranchas 11 à 20, a média de vinhetas por
página é de 8, o que, considerando que algumas têm 6, outras surgem com muitas
mais.
Toda esta harmonia de texto, desenho, texto e cor é ajudada
por apenas um autor fazer tudo, o que não é muito comum. Mesmo quando o
argumento e o desenho têm apenas sum autor, quase sempre a cor pertence a
outro. Neste caso, é tudo feiro por Mathieu Bonhomme, o que contribui para coerência
do conjunto.
A capa é mais um dos elementos do livro e está em linha com
o conteúdo cromático e temático.
Conclusão
Uma obra que vale a pena ler. Com melhor argumento do que a premira
investida do autor no universo Lucky Luke, o que faz aguardar com alguma curiosidade
e expectativa uma nova obra.
Sem comentários:
Enviar um comentário