terça-feira, 27 de abril de 2021

Análise Crítica: Marie

 


Obra: Armazém Central - Marie
Título original: Magasin Central - Marie
Argumento: Régis Loisel & Jean-Louis Tripp
Desenho: Régis Loisel & Jean-Louis Tripp
Cor: François Lapierre
Editora: Arte de Autor
Tradução: Pedro Cleto
Data da Edição: 2021
Álbum cartonado: 80 páginas
ISBN: 978-989-54827-8-8
Preço: 21,00 €
Dimensões: 228 x 300 mm
 

Análise

Este álbum é uma reedição de uma obra já publicada em Portugal no ano de 2007.  A nova edição surge no contexto da publicação recente dos 4º e 5º episódios de Armazém Central. Perante o vasto conjunto de críticas positivas resolvi entrar em contacto com esta série que me era desconhecida. Considerando o modo como as diferentes séries têm sido produzidas nos últimos anos, com os álbuns a constituírem um episódio em continuação, numa ligação do argumento que se prolonga ao longo de vários volumes, fazendo algo que resolveram chamar de ciclos, achei por bem não arriscar num volume adiantado da série, sem ler os álbuns anteriores

A saída deste primeiro volume, numa reedição, transformou-se na situação adequada para conhecer a série.

Armazém Central tem logo uma característica distintiva de quase toda a banda desenhada que se púbica. O argumento e o desenho são feitos a quatro mãos. Não há um argumentista e um desenhador. Os dois autores repartem entre si o trabalho de desenho e de construção do argumento.

O desenho, que usa um estilo caricatural, é agradável de ser visto, embora algumas personagens femininas apresentem o rosto muito semelhante, criando alguma dificuldade na sua distinção. Mas, se retirarmos este pormenor, a riqueza de detalhes cenográficos e a expressividade dos rostos, são elementos fundamentais na demonstração da qualidade do desenho.

A forma como os autores sabem narrar é um dos pontos fortes da série. Nota-se um domínio claro de várias técnicas: os diálogos, o desenho a complementar o texto, as sequências narrativas sem texto ou a passagem do tempo apresentada nas vinhetas.

O texto reduz-se ao essencial para narrar a história, não se escusando os autores do recurso a onomatopeias para complementar, e muito bem, o que o reduzido texto não expõe.

A cor é uma das boas características desta obra. Com uma diversidade cromática elevada, consegue, sem usar cores estridentes, transmitir um ambiente de serenidade que não fere o leitor.

O argumento não é, neste primeiro álbum, algo que prenda o leitor da primeira à última página. Tudo se passa num acumular de pequenos episódios, que mais do que girarem em torno de Marie, a proprietária do Armazém Central, e que dá o nome a este episódio, se ligam na aldeia. A aldeia, enquanto grupo social, localizado naquele espaço, é a ligação entre os vários “contos”, que poderiam subsistir individualmente enquanto narrativa. Não há um pequeno relâmpago que faça o leitor abrir os olhos ou o arraste para o volume seguinte, que se percebe que terá que surgir, porque neste primeiro quase nada se passa de relevante. Espero que o segundo volume, que pretendo adquirir, quando for editado, acrescente um pouco mais de ligação a estes pequenos episódios, que, por acaso, se passam na mesma localidade, com pessoas que se cruzam.

Nas informações sobre a obra, surge a indicação de uma adaptação á linguagem do Quebeque, local da ação. Provavelmente a tradução faz perder essa individualidade da escrita, pois a diferenciação que deverá estar no francês original, fica perdida na tradução, mas a culpa não é do tradutor, mas sim das especificidades de cada língua.

A capa enquadra-se bem no espirito da obra, mostrando uma imagem que traduz a vida campestre, sem grandes agitações nem emoções.

Conclusão

Sem um entusiamos muito grande, vou esperar para comprar o segundo volume. Talvez assim possa fazer um juízo mais acertado desta série, que, não me entusiasmando, também não me desgosta. Espero a continuação.

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