Eça de Queirós por Eduardo Teixeira Coelho.
Pode parecer excessivo atribuir a adaptação a Eduardo
Teixeira Coelho, que era um desenhador, dada a relevância do texto neste
conjunto de obras que aqui são referidas. No entanto, é esse excessivo texto original
que faz com que a adaptação passe a ser quase exclusivamente gráfica, e por
isso de Eduardo Teixeira Coelho. Quase todos os episódios contêm o texto primitivo
de Eça, pelo que a única verdadeira inovação está no desenho, e é nessa
perspetiva que aqui se aplica o título.
Esta forma de trazer Eça de Queirós para a banda desenhada transforma
alguns dos contos adaptados apenas em texto ilustrado. São quadros isolados,
onde, se eliminarmos o texto, dificilmente se encontra uma leitura sequencial
de imagens, adivinhando a história que elas encerram.
No episódio a Torre de D. Ramires, episódio retirado de A
Ilustre Casa de Ramires, contrariamente aos contos, já o texto sofreu alguma
adaptação, tornando-o mais flexível à narrativa gráfica, e existindo uma maior
participação efetiva de Raul Correia nas palavras usadas.
Não podemos, no entanto, analisar a forma como a adaptação é
feita, com os olhos de hoje, século XXI. A banda desenhada portuguesa nos anos cinquenta
do século XX tinha muitos trabalhos usando estas adaptações de obras literárias,
que eram bastante apreciadas pelos leitores da época. Também não se deve
esquecer que há 70 anos a banda desenhada era destinada a um público muito
jovem. Essencialmente crianças e adolescentes. É este contexto, marcado também
pela repressão política e exaltação do patriotismo, com um isolacionismo
cultural muito significativo, que marca as adaptações feitas por Eduardo
Teixeira Coelho.
Note-se, no entanto, que existem adaptações de obras literárias,
feitas por outros autores, que não seguem de forma tão restritiva o texto
original, tendo o argumentista e o desenhador gozado de muito menos restrições,
usando obras de autores estrangeiros e de alguns portugueses.
Não se pode deixar passar em claro o trabalho de desenho
efetuado por Eduardo Teixeira Coelho na comunicação de sentimentos pelos rostos
das personagens, um dos pontos fortes da arte do autor, e na tentativa de
apresentar alguma sequenciação da ação no conjunto das vinhetas, tarefa muito
difícil de concretizar, por vezes impossível, na rigidez da divisão do texto de
Eça.
Os trabalhos originais, publicados na revista O Mosquito
tiveram sempre a adaptação do texto para a banda desenhada efetuada por Raul
Correia.
Numa reedição de 1983 em álbum, dos contos O tesouro, o
Suave milagre e O Defunto, o texto das legendas da década de cinquenta, sofreu
alterações da autoria de José Carlos Teixeira.
Qualquer uma das adaptações feitas, por Raul Correia e José
Carlos Teixeira, não transcreve o texto integral das obras de Eça, havendo
alterações e omissões do texto original.
Segue-se a lista dos diferentes trabalhos adaptados de obras
de Eça de Queirós e o local de publicação original.
A torre de D. Ramires,
com adaptação do texto de Raul Correia, em O Mosquito 1113 a 1136, entre 22 de
fevereiro e 22 de julho de 1950
(Imagem retirada do álbum Antologia da BD Portuguesa nº 21)
O Defunto, com
adaptação do texto de Raul Correia, em O Mosquito 1157 a 1187, entre 26 de
julho e 8 de novembro de 1950
(Imagem retirada do álbum editado em 1983 pela editora Vega)
(Imagem retirada do álbum editado em 1983 pela editora Vega)
(imagem da republicação no Jornal do Cuto)
(imagem de Aventuras Heroicas nº 10)
S. Cristóvam, com
adaptação do texto de Raul Correia, em O Mosquito 1388 a 1412, entre 11 de
outubro de 1952 e 24 de fevereiro de 1953
(Imagem retirada do blogue O Voo do Mosquito)
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