quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Eduardo Teixeira Coelho - Centenário do nascimento (4)


Eça de Queirós por Eduardo Teixeira Coelho.

Pode parecer excessivo atribuir a adaptação a Eduardo Teixeira Coelho, que era um desenhador, dada a relevância do texto neste conjunto de obras que aqui são referidas. No entanto, é esse excessivo texto original que faz com que a adaptação passe a ser quase exclusivamente gráfica, e por isso de Eduardo Teixeira Coelho. Quase todos os episódios contêm o texto primitivo de Eça, pelo que a única verdadeira inovação está no desenho, e é nessa perspetiva que aqui se aplica o título.
Esta forma de trazer Eça de Queirós para a banda desenhada transforma alguns dos contos adaptados apenas em texto ilustrado. São quadros isolados, onde, se eliminarmos o texto, dificilmente se encontra uma leitura sequencial de imagens, adivinhando a história que elas encerram.
No episódio a Torre de D. Ramires, episódio retirado de A Ilustre Casa de Ramires, contrariamente aos contos, já o texto sofreu alguma adaptação, tornando-o mais flexível à narrativa gráfica, e existindo uma maior participação efetiva de Raul Correia nas palavras usadas.
Não podemos, no entanto, analisar a forma como a adaptação é feita, com os olhos de hoje, século XXI. A banda desenhada portuguesa nos anos cinquenta do século XX tinha muitos trabalhos usando estas adaptações de obras literárias, que eram bastante apreciadas pelos leitores da época. Também não se deve esquecer que há 70 anos a banda desenhada era destinada a um público muito jovem. Essencialmente crianças e adolescentes. É este contexto, marcado também pela repressão política e exaltação do patriotismo, com um isolacionismo cultural muito significativo, que marca as adaptações feitas por Eduardo Teixeira Coelho.
Note-se, no entanto, que existem adaptações de obras literárias, feitas por outros autores, que não seguem de forma tão restritiva o texto original, tendo o argumentista e o desenhador gozado de muito menos restrições, usando obras de autores estrangeiros e de alguns portugueses.
Não se pode deixar passar em claro o trabalho de desenho efetuado por Eduardo Teixeira Coelho na comunicação de sentimentos pelos rostos das personagens, um dos pontos fortes da arte do autor, e na tentativa de apresentar alguma sequenciação da ação no conjunto das vinhetas, tarefa muito difícil de concretizar, por vezes impossível, na rigidez da divisão do texto de Eça.
Os trabalhos originais, publicados na revista O Mosquito tiveram sempre a adaptação do texto para a banda desenhada efetuada por Raul Correia.
Numa reedição de 1983 em álbum, dos contos O tesouro, o Suave milagre e O Defunto, o texto das legendas da década de cinquenta, sofreu alterações da autoria de José Carlos Teixeira.
Qualquer uma das adaptações feitas, por Raul Correia e José Carlos Teixeira, não transcreve o texto integral das obras de Eça, havendo alterações e omissões do texto original.

Segue-se a lista dos diferentes trabalhos adaptados de obras de Eça de Queirós e o local de publicação original.

A torre de D. Ramires, com adaptação do texto de Raul Correia, em O Mosquito 1113 a 1136, entre 22 de fevereiro e 22 de julho de 1950
(Imagem retirada do álbum Antologia da BD Portuguesa nº 21)

O Defunto, com adaptação do texto de Raul Correia, em O Mosquito 1157 a 1187, entre 26 de julho e 8 de novembro de 1950
(Imagem retirada do álbum editado em 1983 pela editora Vega)

 O suave milagre, com adaptação do texto de Raul Correia, em O Mosquito 1188 a 1200, entre 11 de novembro e 23 de dezembro de 1950
(Imagem retirada do álbum editado em 1983 pela editora Vega)

 O tesouro, com adaptação do texto de Raul Correia, em O Mosquito 1375 a 1381, entre 27 de agosto e 17 de setembro de 1952
(imagem da republicação no Jornal do Cuto)

 A Aia, com adaptação do texto de Raul Correia, em O Mosquito 1182 a 1387, entre 20 de setembro e 8 de outubro de 1952
(imagem de Aventuras Heroicas nº 10)
S. Cristóvam, com adaptação do texto de Raul Correia, em O Mosquito 1388 a 1412, entre 11 de outubro de 1952 e 24 de fevereiro de 1953
(Imagem retirada do blogue O Voo do Mosquito)

Sem comentários:

Enviar um comentário