domingo, 28 de março de 2021

Análise Crítica: O heroísmo de uma vitória


         Obra: O heroísmo de uma vitória
Autor: José Ruy
Editora: Âncora
Data da Edição: 2020
Álbum brochado: 32 páginas
ISBN: 978-989-862-870-7
Preço: 10,90 €
Dimensões: 175 x 246 mm

 

Análise

José Ruy já utilizara este modelo de narrativa com bastante eficácia em Operação Òscar e em Mataram o rei! Viva a Republica. Recorrer a personagens fictícias, colocando-os a contracenar com personagens reais em factos verídicos.

Portanto, do ponto de vista narrativo, há que enquadrar o modelo escolhido por José Ruy, e, dentro do estilo adotado, conseguiu os seus objetivos. Narrar os eventos históricos de modo eficaz, claro, deixando perceber bem o que é real e o que é ficção.

José Ruy recorre bastante ao texto legendado, sendo aí que se encontra em maior abundância o relato histórico-verídico, servindo os diálogos, em que usa balões, para acrescentar os factos ficcionados.

As vinhetas encontram-se bem definidas, separadas por espaços em branco. Há, em situações muito reduzidas, vinhetas sobrepostas, em que se tenta mostrar simultaneidade ou sobreposição de observações. A sequência pela qual é feita a leitura não é optativa. Torna-se claro em cada vinheta qual é a anterior ou a posterior, e, se em alguns casos houvesse dúvida, o próprio autor coloca setas que indicam a sequência que ele pretende que o leitor siga.

José Ruy tem um desenho bastante plástico, onde os corpos denunciam de modo claro o seu movimento, mas mesmo assim, não se inibe de recorrer a símbolos cinéticos que acrescentam fluidez ao imaginado movimento dos corpos. Os desenhos de José Ruy não são estátuas. São corpos que se movem de forma bem explícita.

O autor não pode ser acusado de desenhar figuras sobre fundos coloridos. Continuando um estilo que já vem detrás, José Ruy explicita bem os cenários onde a ação decorre, não exagerando, deixando o leitor a admirar o fundo da vinheta, esquecendo a história, mas colocando os elementos essenciais que tornam a observação da vinheta agradável.

Na página 2 do álbum surge a indicação das obras consultadas por José Ruy, e se algumas se dirigem aos eventos históricos, outras são de pesquisa icónica, de modo a poder fazer bom uso da sua arte de desenhar na representação de uniformes, vestuários de época, monumentos e orografia locais.

Em todo o desenho há um pormenor, também comum a outros trabalhos de José Ruy, que parece ser o seu ponto fraco. Quando faz a abordagem de alguns planos gerais, fica-se com a ideia que as proporções do terreno e dos corpos representados nem sempre são bem reproduzidos. Como exemplo disso fica a vinheta reproduzida na contracapa, onde parece haver uma desproporção entre as dimensões da baía, dos barcos e o seu posicionamento em relação à profundidade das águas.

A capa é excelente, mostrando toda a mestria de José no desenho de corpos e objetos e do mar. José Ruy sempre desenhou muito o mar: Lusíadas, Capitão Bomvento, Fernão Mendes Pinto, etc, e esta capa revela todo o conhecimento e experiência que ele adquiriu.

Lamenta-se este livro não ser publicado em capa dura, o que mais tarde ou mais cedo o condenará a ter a capa separada das folhas. O objetivo deve ter sido produzir uma edição mais barata.

Conclusão

Obra de um grande mestre da banda desenhada portuguesa, que continua a desenhar e a narrar com elevada qualidade. Pertence a um género de que nem todos gostam, narrando eventos históricos,  que José Ruy, consegue aligeirar sem adulterar os factos. Mais um livro a juntar a muitos outros de José Ruy, que constituem uma versão alternativa de conhecer a história portuguesa desde a fundação de Portugal até aos tempos contemporâneos.


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