ETC - O Caminho do Oriente
No global da obra de Eduardo
Teixeira Coelho há quem considere que este é o seu trabalho mais importante, ou
até o mais importante da banda desenhada portuguesa.
Não é assunto pelo qual pretenda
entrar em discussão, pois está-se num campo de análise muito pessoal.
Esta obra é longa. Possui 331
páginas e 1251 vinhetas. Destas existem 52 ocupando meia página. Uma em meia
página vertical e 51 em meia página horizontal. Existem ainda 8 páginas com uma
única vinheta gigante.
Vinheta dupla
Vinheta ocupando a página
Há na qualidade do desenho uma
evidente evolução ao longo dos dois anos. No início da aventura nota-se que há
alguma de carência de elementos cenográficos, face à riqueza que viria a surgir
em fase mais adiantada.
Vinhetas
cenograficamente pobres.
O número de vinhetas mais
elaboradas, com desenhos mais pormenorizados, também aumentou ao longo da
narrativa, com uma reduzida presença de vinhetas duplas nas primeiras 100
páginas do trabalho, onde também não surge nenhuma página com apenas uma vinheta.
Duas vinhetas com grandes planos de rostos ou do rosto e de parte
superior do tronco. Simão Infante e Manuel I
Esta banda desenhada possui um
texto longo, colocado em legendas no rodapé das vinhetas. Num estilo replicado
em mais obras portuguesas da época, mas que estava a ser abandonado noutras
áreas do mundo, com a banda desenhada a seguir outros caminhos e a deixar quase
em vias de extinção esta forma de fazer banda desenhada. O excessivo texto faz
ainda que as vinhetas, na maior parte das situações, ilustrem o texto,
reproduzindo as palavras em imagens. Já na época, outros autores, procuravam
fazer uma banda desenhada em que texto e desenho se completassem e
complementassem, traduzindo informações coerentes e consistentes, mas não
criando o repetir da leitura do texto na imagem.
Nota-se que Eduardo Coelho domina
bem a outra forma de fazer banda desenhada, tentando sempre que possível, sequenciar
a narrativa nas imagens, nas partes em que tem maior preponderância criativa da
história, mas não lhe era fácil fazê-lo,
pois acrescia sempre o texto de Raul Correia, que constrói um texto
literariamente interessante, mas de caraterísticas menos agradáveis enquanto
argumento de banda desenhada.
Conjunto de vinhetas onde a ação é percetível apenas pelo desenho, sem
necessidade de texto
A aventura O Caminho do Oriente é
baseada numa obra presumivelmente escrita por Álvaro Velho, um marinheiro da
expedição à Índia. Raul Correia segue as incidências do texto original,
copiando algumas partes para legendar desenhos. A personagem principal é
colocada nos eventos descritos no roteiro, mas Raul Correia e Eduardo Teixeira
Coelho criaram também novas situações e factos.
A personagem principal, Simão
Infante, é uma criança de onze ou doze anos. Nota-se por vezes algumas contradições,
no argumento, associadas a esta situação. Simão Infante tanto surge com força
física suficiente para enfrentar adultos ou um jovem de dezoito anos, como também
acontece que um adulto só com uma mão lhe pega e o transporta pelo ar, com
total incapacidade de resistência. Também há alguma incoerência na forma como
os acontecimentos são vistos por Simão, com atitudes dificilmente atribuíveis à
sua idade.
A narrativa tem no seu início uma
voracidade de acontecimentos cujo objetivo é óbvio: prender o leitor á
continuidade da história na revista seguinte.
É assim que vemos Simão a querer
atravessar o rio Tejo para Lisboa, saberemos mais tarde, que vindo de Setúbal,
onde se cruza com Paulo da Gama. Vemos Simão a colocar-se numa situação de luta
mal chega a Lisboa, a ser perseguido pelas ruas da cidade, a contar as suas
aventuras ocorridas em Setúbal e finalmente a partir para Montemor-o-Novo.
Na descrição da viagem de Vasco
da Gama segue-se a ordem cronológica dos acontecimentos, mas criando incidentes
que permitem a intervenção de Simão, onde se inclui uma improvável aula de
artes marciais. Além destas peripécias há várias páginas onde é cantada uma
balada que conta a conquista de Lisboa, episódio da responsabilidade de Eduardo
Teixeira Coelho, embora o texto final seja de Raul Correia.
Fernão Veloso inicia a sua balda em que relata a conquista de Lisboa
Além de Simão Infante muitas
outras personagens cruzam a narrativa. Algumas que tiveram existência física
real, por serem bastante conhecidas, outras que se sabe serem ficção, e outras
que só os autores nos poderiam informar da sua existência real ou não.
Das personagens com existência
real refiram-se, entre outras, Vasco da Gama, Paulo da Gama, Manuel I,
Bartolomeu Dias, Pero de Alenquer- piloto da S, Gabriel de Vasco da Gama-, Fernão
Veloso, Nicolau Coelho, Afonso Henriques, Samorim de Calecut, Rei de Melinde e
o próprio Álvaro Velho.
Vasco da Gama, uma das personagens reias retratadas na obra
Álvaro Velho surge já na viagem
de regresso, e depois desaparece, ficando a ideia que teria morrido numa
tempestade, mas essa não é a hipótese mais plausível para o que terá acontecido
ao autor do roteiro da viagem de Vasco da Gama.
Das personagens de ficção
salientem-se João Broa, (criado por Eduardo Teixeira Coelho), Ruy Pedro,
Tzerine, Francisco, (um jovem de Cabo Verde), e Frei Padinha, (uma homenagem a
um dos homens que escrevia em O Mosquito, José Padinha).
A publicação original foi feita
com cor, variável de revista para revista, mas nunca teve direito a qualquer
capa nos muitos números de O Mosquito em que foi publicada. Por esse motivo,
quando em 1983 o trabalho de Raul Correia e Eduardo Teixeira Coelho foi
publicado em seis álbuns, houve que recorrer a algumas vinhetas, que foram
coloridas, para produzir as capas das publicações, trabalho que foi feito por
José Ruy.
Capa com o trabalho de José Ruy sobre um desenho de Eduardo Teixeira
Coelho
Assinei "O Mosquito" desde os meus 7 anos até aos
ResponderEliminaraos 18 ou 19 e recordo-me bem do "A caminho do Oriente"" que penso eu era uma notável BD do ETC mas não a única desse autor que o jornal publicou. Lembro-me ce outra que era um conto retirado creio que do Eça .Dos primeiros tempos recordo os quadradinhos ingleses e umas 'pequenas bandas comicas "Fitas Faladas" e "Pedro de Lemos tenente e no Manel tres réis
de Gente"e bem queria encontrar esses Mosquitos que devo ter atafulhados num armazém no Algarve estando a viver em Lisboa nestes tempos de "peste": Cumprimentos