Título original: Sonno Elefante
Autor: Giorgio Fratini
Editora: Levoir
Introdução: João Miguel Lameiras
Data da Edição: 2020
Álbum cartonado: 112 páginas
ISBN: 978-989-862-855-4
Preço: 10,90 €
Dimensões: 175 x 246 mm
A temática do argumento é pouco frequente na banda desenhada
publicada em Portugal. Mais estranha se torna quando verificamos que se trata
de um autor italiano. São poucos os portugueses que abordam o tema, que daria
excelentes argumentos. Não se encontram muitos argumentos que se concentrem na
atuação da PIDE e dos efeitos na sociedade e nas vítimas que a sua atuação provocou,
Neste livro está tudo, apesar de o autor não ser português.
Todas as situações que envolvem o tema estão expostas. A
maldade dos agentes da PIDE, o seu sadismo e a sua ignorância. A ingenuidade
das vítimas que nunca esperam ser apanhadas e julgam que no caso de isso
suceder serão capazes de resistir a todas as pressões, desconhecendo tudo
aquilo a que seriam sujeitas para falar. O desespero dos familiares que não
percebem o que está a suceder aos seus entes próximos e nem conseguem obter
nenhuma informação do que se passa. Os efeitos psicológicos nas vítimas, após a
sua passagem pela tortura e pela prisão. O oportunismo, na maior parte das vezes
baseado na ganância, de informadores insuspeitos, que conduziram muita gente à
tortura, a maior parte das vezes com informações falsas. A inexistência de
ações de justiça sobre esses informadores que causaram mal a tantas pessoas, e
que no regime democrático viveram a sua vida como se não tivessem feito nada de
criminoso anteriormente.
O argumento é muito bom. Embora o uso dos elefantes o intelectualize
demasiado, há que respeitar a opção do autor e não desvalorizar o conteúdo por
esse aspeto.
O desenho é a parte mais fraca desta obra. As personagens
são desenhadas com traços que por vezes dificultam a sua identificação. Os rostos
são demasiados semelhantes para que o leitor rapidamente associe o rosto à
respetiva personagem. Mesmo a distinção entre as pessoas de pele de branca e as
de pele preta torna-se muito difícil pelas tonalidades que o desenhador usa nos
rostos.
Também o desenho dos edifícios, não aparece da forma mais
eficaz. Como exemplo está a vinheta da página 21, embora haja outras situações,
onde a perspetiva, de baixo para cima, nos apresenta um prédio mais largo na
parte superior no que na inferior, o que sendo, o autor um arquiteto, parece
estranho. Mesmo que tenha sido esse o objetivo do desenhador, resulta uma
aparência estranha.
O desenhador faz um bom uso das vinhetas, usando geometrias
diferentes consoante as emoções que pretende transmitir ou as descrições que
quer efetuar. Os retângulos verticais, os retângulos horizontais, as vinhetas
quadradas, ou mesmo as vinhetas de página inteira, organizam-se de forma
coerente, tornando, nesse aspeto, a narrativa fluida. O autor introduz breves sequências
de vinhetas sem palavras, ou intercala-as isoladamente entre outras com diálogos.
Neste âmbito gráfico talvez o autor se pudesse ter aventurado um pouco mais.
Baseada na imagem e nos balões, as legendas surgem só para
localizar a ação, o que é um dos aspetos positivos deste livro. Não há texto em
excesso, os diálogos enquadram-se no desenho e o desenho complementa o texto. A
esta descrição apenas se retira o prólogo, onde o autor abusa do texto em
legendas. Percebe-se a necessidade de fazer o enquadramento da narrativa, mas
poderia ter tomado outras opções, talvez, ocupando mais páginas, mas não
deixando o prólogo tão distinto da restante obra.
Também o tipo de letra é um elemento que facilita a leitura,
não obrigando a concentração exagerada. É feito algum uso do negrito ou de um
tamanho maior de letra para expressar algumas emoções, mas nesse aspeto o autor
poderia ter ido um pouco mais longe. Alguns diálogos e algumas palavras
poderiam ter sido escritos com outros tipos que reforçassem as emoções das
personagens.
A onomatopeia, um dos recursos importantes da banda desenhada
também é usada de forma clara, transmitindo os ruídos necessários à compreensão
da narrativa.
A banda desenhada complementa-se com uma parte de texto, de enquadramento
histórico, que se torna importante para um estrangeiro, e também para os
portugueses que não vivenciaram ou que já não cruzaram esses tempos.
Conclusão
Obra a ler, principalmente pelo argumento, bem escrito, e
raro em relação a tema, na banda desenhada publicada em Portugal. Alguns
problemas na parte gráfica, que dificultam a leitura, mas não a desaconselham
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