Título original: Broderies
Autor: Marjane Satrapi
Editora: Levoir
Introdução: Joana Fernandes
Tradução: João Miguel Lameiras
Data da Edição: 2020
Edição original: 2003
Álbum cartonado: 130 páginas
ISBN: 978-989-862-868-4
Preço: 10,90 €
Dimensões: 217 x 295 mm
Bordados roda em torno da palavra que titula o livro. E logo
no inicio são apresentadas as três aceções da palavra que se constituem no
cerne deste livro.
1- Adorno de tecido ou uma pele com estrutura feita em
relevo.
2- Fofoca. Difusão ou narração de mexericos ente várias
pessoas.
3- Reconstrução cirúrgica do himen para simular a
conservação da virgindade.
Estes significados são válidos para a cultura iraniana e é
nesse contexto que o livro tem que ser interpretado.
Quase todo o argumento se centra no problema da perda da
virgindade nas mulheres iranianas quando não são casadas, na sua sexualidade
que a sociedade reprime e na forma como elas entre si conversam todos estes
temas, revelando a hipocrisia social, que é assumida também por elas. A
importância de parecer, mais do que ser.
Toda a temática é tratada numa perspetiva humorística, nunca
a abandonando e para os leitores da cultura ocidental apenas esse referencial
faz sentido. O referencial social dessas mulheres dificilmente é entendível à
luz da cultura europeia e, como a autora escreve para europeus , sem dúvida que
é o humor que ela pretende fazer realçar. O humor quase sempre nasce de uma
situação contraditória entre o a situação real e uma aparente normalidade. É
essa contradição que Marjane Satrapi explora com este trabalho. Pretende fazer
rir.
Exte livro lido por uma mulher iraniana a viver no Irão, ou
um homem iraniano, terá muito provavelmente uma interpretação distinta da que um
europeu tão distante desses valores e dessa cultura conseguirá apropriar.
Em síntese, trata-se de um argumento divertido que
caricatura um determinado estrato social da sociedade iraniana no que concerne
à sua moral sexual. Um grupo de mulheres de diferentes idades que vivem a mesma
vida de aparências.
O argumento está muito centrado no texto. Há situações em
que o desenho complementa o humor ou acrescenta informação ao texto, mas quase
sempre, apenas precisamos de ler o texto, e rir com as contradições que ele
sugere.
O estilo de desenho é estranho. Centra-se muito nos rostos,
de modo que se perceba a que personagem pertence o texto, sendo as imagens de
corpo inteiro reduzidas ao mínimo que o texto exige.
Não existem separadores de vinhetas e os cenários de fundo
só muito raramente aparecem. A maior parte do livro é constituído por rostos e
texto.
Esta insistência nos rostos deveria levar a autora a fazer
uma clara distinção entre todos. Conseguem-se distinguir perfeitamente as
personagens que possuem cabelo diferente, mas quando a cor surge negra e a
forma semelhante, os rostos ficam muito parecidos, dificultando a distinção de
cada uma das mulheres.
Apesar do excessivo texto, é evidente que a autora domina as
técnicas da comunicação em banda desenhada e
usa os diferentes planos para conseguir manter a atenção do leitor, que
se poderia desligar perante o excesso de palavras.
A extensão do texto necessitava que fosse usado um tipo de
letra que facilitasse a leitura. Esta é dificultada não só pelo tipo usado mas
também pela sua dimensão, que é muito reduzida.
Não sou apreciador deste tipo de desenho e a autora não reflete
ser uma desenhadora de excelência, apenas mostra ser capaz de comunicar bem com
a banda desenhada. Um bom desenhador vai muito além de desenhar rostos com
diferentes expressões.
A obra apenas usa o preto e branco. Marjane Satrapi
mostra-se uma boa utilizadora do negro de modo a evidenciar os corpos e a as
suas formas. A cor negra é quase como um relevo que faz a personagem sair do
página.
Conclusão
Um bom livro de humor, cuja leitura nos faz sempre estar com
ar sorridente. No aspeto sociológico pode servir de arma para quem critica a
sociedade iraniana e sua moral sexual de cariz machista. Em termos mais gerais
é uma amostra da hipocrisia que normalmente enferma qualquer sociedade.
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